MENOS É MUITO MAIS

ARTIGOS | 13/06/2017

Existem várias escolas dentro da fotografia, das mais tradicionais e puritanas, às modernas e livres de regras. Desde que a fotografia digital se disseminou, há uma discussão sobre fotografar em RAW ou fotografar em JPG. Acho até que esse fervor diminuiu nos últimos tempos (ainda bem). Sem prolongar muito esse debate, vamos concordar com uma coisa: independente de que modo você utilize, o ideal é que a foto final fique o mais próxima do que você imaginou no momento do clique. Isso te desafiaria a ter mais precisão ao fotografar e também te daria mais tempo de vida longe do computador. Que sonho. Porém, mesmo nos dias de hoje, com uma evolução incrível dos sensores digitais, nossa câmera nem sempre consegue capturar as cenas exatamente da forma que você estava vendo, em termos de cores e luzes. Então, principalmente para fotógrafos de eventos, que convivem com uma mudança constante de ambientes e situações de luz, o arquivo RAW se torna um aliado, pois oferece maior maleabilidade no tratamento da imagem e sem perda significativa de qualidade.

O tratamento é parte essencial na finalização de uma foto, já que o RAW geralmente entrega uma imagem um pouco “lavada” (sem contraste). Tratar é processar uma imagem, extraindo dela o máximo que pode oferecer. Nesse momento, toda cautela é necessária. Um tratamento tanto pode acender e dar mais força a uma imagem, como pode também detoná-la, se feito de maneira exagerada. Fotos que estão bem expostas às vezes só precisam de ajustes leves de balanço de branco, curvas e coloração, já dando aquele “tchan” que faltava.

Numa busca por ter fotos “diferentes” das dos nossos colegas, nos pegamos usando pacotes de ajustes predefinidos que são disponibilizados para download e venda na internet, simulando efeitos ou dando uma coloração diferenciada à foto. Ou poderíamos também fazer esse processamento manualmente, acrescentando tonalidades coloridas, removendo contraste, enfim… experimentando todos os recursos do software em busca de nossa identidade no tratamento. E é aí que está o perigo.

Será que uma foto precisa de tanta maquiagem e perfumaria assim? Será que esses efeitos não estão escondendo e atrapalhando a visualização de uma boa foto que está ali por trás disso tudo? Ou, de repente, tentando disfarçar uma foto que não ficou tão boa assim? Muitos já ouvimos a dica infame “Se a foto não está tão boa, coloca em preto e branco que fica ótima”. Porém, sinto informar que nem o papa pode salvar uma foto ruim. Grande parte dos tratamentos mais pesados que vejo, ou fotos que são “salvas” num tratamento miraculoso, na verdade eram questões que poderiam ter sido resolvidas na hora do clique. Uma luz mais bem projetada, um enquadramento bem pensado, uma técnica dominada.

Escrevi numa coluna anterior (A vida é feita de escolhas) que fotografia é interpretação e comunicação. O tratamento faz parte disso também, mas acredito que a identidade de um fotógrafo está na sua forma de ver, sentir e fotografar. Precisa haver uma identidade no tratamento também?

Lembre-se: o tratamento deve complementar a sua foto, ajudando a ressaltar o poder que ela tem, e não atrapalhar sua leitura.

Menos é muito mais.

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Maíra Erlich
mairaerlich.com

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