VOCÊ ESTÁ OBSERVANDO?

ARTIGOS | 01/06/2016

Se a resposta for sim, muito rapidamente, a refaça: está mesmo?

Precisamos aprender a ver mais e melhor! Saiba mais sobre isso e programação neurolinguística em uma conversa com o retratista Evandro Veiga.

Uma mania muito contemporânea é: ler sem se aprofundar – como você provavelmente está fazendo nesses últimos momentos de rolagem no Facebook em um site qualquer –, ver sem enxergar. É, para todos os efeitos, a preguiça de se envolver, de se relacionar. Por mais que já digamos estar na “era dos relacionamentos”, onde conta mais quantas pessoas engajadas estão em seu negócio ou comunidade, os reais obstáculos ainda estão em uma das habilidades mais remotas e necessárias do ser humano: a comunicação.

Se engana quem vê a comunicação como somente a passagem de uma mensagem. O meio e seus transmissores importam muito nesse processo. Mas como saber se minha mensagem está sendo captada corretamente (seja ela propagar um negócio ou deixar claro ao meu namorado que gosto dele)?

Talvez o problema principal não esteja no quê você está falando, escrevendo, fotografando … mas no como. Os “comistas” são aqueles que estão preocupados em responder às perguntas da vida e em buscar soluções. Que tal você começar a perceber mais a vida ao seu redor? Que tal parar de ser o centro do universo só por um segundo e fixar toda (toda mesmo! não vale WhatsApp do lado) em outra pessoa, em outro projeto, em outra comunidade?

A percepção do todo (do holos – a visão holística) é algo que deve ser regularmente instigado em nosso dia a dia. Quando começamos a perceber que a chave de tudo é o ser humano e que nele temos todas as respostas a visão das pequenas atividades também mudam. Vamos começar um desafio hoje?

Você irá pegar uma pessoa por semana “para Cristo” e anotar mentalmente algumas características físicas e psicológicas que você nunca havia notado sobre aquela pessoa. Você vai procurar perceber como ela se movimenta, como mexe os braços, se ela olha profundamente para você, como se comunica e o porquê o faz. Depois de algumas semanas tente colocar algumas dessas observações em prática através das percepções que você terá em outras pessoas com as mesmas características.

Uma forma muito conhecida e eficaz de estudo do comportamento humano é chamado de Programação Neurolinguística (PNL), que foi concebida por Richard Bandler e John Grinder, na Califórnia. O objetivo era identificar os padrões linguísticos e comportamentais. O conjunto de modelos, técnicas e princípios, chamado Programação Neurolinguística (PNL) consiste em:

– Programação: mecanismos ou esquemas inconscientes, rotinas instaladas;
– Neuro: fisiologia, emoção, sensação, 5 sentidos, representações internas.
– Linguística: estrutura linguística, pensamentos, crenças, valores.

Seus adeptos consideram que se trata de uma metodologia de estudo da estrutura subjetiva da experiência humana e a classificam como uma “ferramenta educacional”. Porém, a técnica não atende aos critérios de cientificidade propostos por Popper e outros filósofos da Ciência, por isso classificada como pseudociência.

Na nossa realidade fotográfica um dos conhecedores do PNL na fotografia é Evandro Veiga. Conheci seu trabalho há tempos, mas não o conhecia pessoalmente até nos encontrarmos no Wedding Brasil este ano. Confesso que minhas primeiras impressões foram de medo. “Como posso conversar com alguém que me lê o tempo todo?”, me perguntava a cada minuto de conversa porque já conhecia seu currículo.

Acontece que, a cada minuto também, essa pergunta ia se transformando em momentos mais leves de entusiasmo por ele. Queria saber mais sobre alguém que já retrata o ser humano de uma forma peculiar. Eu sabia que havia me debatido com esse questionamento “de ele me ler o tempo todo” porque sei que eu mesma faço isso. Também analiso e procuro entender o porquê das ações e da comunicação de cada um, para compreendê-los melhor. Foi aí que Evandro Veiga ganhou vida na parte direita do meu cérebro, da razão, quando ele me mostrou o quanto poderemos aprender se estamos dispostos, o quanto nosso trabalho pode mostrar muito mais das pessoas que retratamos. Vamos aprender juntos?!

((atenção!! todo conhecimento deve ser usado com carinho, cautela e bons propósitos))

E ainda: uma vez que você conhece algo, não há como desconhecer. 😉

MF: Como iniciou esta sua vontade de saber mais sobre o ser humano? De entender as expressões e com isso evoluir também na sua fotografia e forma de lidar com as pessoas?

EV: Sempre tive a mania (que logo cedo virou hábito) de observar muito as expressões, mesmo não entendendo muitas delas. Isso vem de meu avô materno que falava com os netos muito de perto. Mais tarde, comecei a fotografar e usar muito lentes teleobjetivas como 70-200 (em 200), por exemplo. O elo continuava sendo os rostos. Por um tempo pensei estar errado ou fazendo do jeito errado. Esses inúmeros rostos tinham que significar algo e, pensando fotograficamente, comecei a estudar retratos.

O engraçado disso tudo é que aprender técnicas fotográficas (luz, composição e etc) era apenas o início para realizar retratos relevantes para mim e principalmente para os retratados.

Gosto de lembrar de uma frase do nosso conhecido Cartier Bresson: “A fotografia não me interessa tanto, o que me interessa é a vida.” Esse pensamento me despertou uma significativa reflexão sobre o que realmente importava. Conhecer quem estava à frente da lente era tão importante quanto usar uma técnica ou outra pois isso deve ser aplicado como consequência dessa experiência entre o fotógrafo e o fotografado.

E foi nesse dia que entendi o óbvio: conhecer o ser humano é fundamental, uma longa estrada mas um caminho obrigatório. Lidar com pessoas é basicamente ser um excelente ouvinte e observador ao mesmo tempo.

MF: A Programação Neurolinguística é um tema que está ganhando cada vez mais “curiosos” porque fala do comportamento natural e do que podemos influenciar. Como você vê este conhecimento aplicado à fotografia e como têm sido ver este trabalho repercutindo Brasil afora?

EV: Eu acredito que aprender a ler (no caso da neurolinguística) é um passo importante para se relacionar e se antecipar no que diz respeito às relações diretas. Vejo esse conhecimento como auxiliar na direção das pessoas. Mas como todo conhecimento, é preciso usar com cautela e sabedoria. Válido para alcançar objetivos no retrato (no meu caso) mas se não soubermos interpretar e devolver essas informações na medida certa, corremos o risco de estragar nossa direção.

MF: Sabemos que uma parte de seu trabalho também compete em escutar o quê os clientes desejam transparecer em seus retratos. E você explica, a partir das expressões e comportamentos, como podem influenciar em como as pessoas os veem. Se você pudesse elencar dois exemplos de expressões que as pessoas mais te pedem e porquê quais seriam?

EV: Todos querem atingir um ideal de beleza baseado em nossa cultura. Existem vários caminhos para chegar em expressões e até mesmo angulações do rosto para otimizar certas expressões e chegar num resultado possível desse ideal. Uma das expressões que gosto de chamar de “expressão de defesa” ou o popular “sorrir para a foto”, é o que acontece primeiro. Digo isso pois a primeira ideia é de que precisamos parecer felizes na fotografia uma vez que essa vai ficar gravada como registro e as pessoas sabem disso. Então esse primeiro movimento é o que acontece primeiro e consequentemente é o retrato que elas esperam que fique ótimo (seguindo aquele ideal de beleza já comentado).

A segunda expressão é aquela onde a pessoa fica séria. Estas fisionomias (quando serenas) ainda estão no mesmo ideal. Há quem não goste de passar uma mensagem errada de felicidade, portanto artificial. Esses casos são os mais simples, pois nossas expressões de partida são sempre do estado sereno/sério para o composto (alegria, tristeza, surpresa, insatisfação e etc…).

MF: Vou fazer uma pergunta que você pode ignorar se quiser, mas é uma curiosidade que comentei quando conversei a primeira vez com você: Como é “ler” as pessoas o tempo todo? Não cansa? Porque sabemos que não como desconhecer algo quando já se conhece. Então mesmo que você não queira ler alguém, pode ser que essa interpretação aconteça naturalmente para você…

EV: Ler as expressões e os movimentos do corpo, depois que se aprende sobre isso, é um caminho sem volta na minha opinião. Não é possível “desligar” essa análise. Estudo muito e ainda há muito para aprender sobre esse universo. Depois de algum tempo vamos acostumando com alguns padrões e vai ficando mais fácil de compreender o que acontece na nossa frente.

MF: E por outro lado… Deve ser fantástico ter alguns indícios que apontam como as pessoas realmente são. Quais são as pessoas que mais te instigam a serem fotografadas?

EV: As pessoas mais interessantes a serem fotografadas são aquelas que não gostam de ser fotografadas. O desafio é descobrir o motivo pelo qual não querem ou não gostam. Já me deparei com essa situação algumas vezes e com o tempo e estudo fui conseguindo reverter.

MF: Última curiosidade é um pedido: você poderia nos sugerir leituras e dicas (caso alguém que esteja lendo também se sinta instigado)?!

EV: Esse é um assunto sério e em crescente estudo. Existe muita literatura, inicial e avançada. Recomendo livros de introdução (obviamente) para começar. Acho necessário estudar psicologia também, pois a neurolinguística não se trata de uma fórmula pronta para obter resultados rápidos. Ela é apenas uma parte de um universo chamado linguagem. Seria pretensão demais achar que existem atalhos para o total entendimento dessa habilidade que não é exclusiva apenas de nós, seres humanos.

Tem alguma pauta interessante? nikelsfurtado@gmail.com 🙂

Be brave and gentil,

Monike Luize Schlei Furtado
Jornalista – Apresentadora

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